Vale fecha contrato inédito com Thyssen

A Companhia Vale do Rio Doce firma hoje em Dunquerque, na França, sede da controlada Rio Doce Manganèse Europe (RDME), contrato de fornecimento de ligas com a HKM, siderúrgica ligada ao grupo alemão ThyssenKrupp. O acordo é o primeiro de longo prazo feito com a empresa e envolve um negócio avaliado em US$ 20 milhões.

A HKM é cliente da Vale, mas comprava no sistema spot, forma comum no mercado de ligas de manganês e outros minerais. “O contrato, de três anos, mostra um novo modelo de relação com nossos clientes e segue o mesmo caminho já adotado com Arcelor e Corus, grandes clientes da Vale na Europa”, afirmou Luis Carlos Nepomuceno, diretor do departamento de manganês e ferro-ligas da Vale.

O manganês é usado 90% na forma de ligas para fabricação de aço. Sua função é tirar impurezas contidas no processo de produção ou como elemento de liga para conferir novas propriedades ao aço. O Brasil é uma das maiores fontes do mundo e figura entre os principais exportadores internacionais.

O material vendido à HKM será fornecido pelas duas empresas da Vale na Europa, a RDME, da França, e a Rio Doce Manganês Noruega (RDMN). O volume do contrato abrange 20 mil toneladas por ano.

O negócio de manganês e suas ligas da Vale passou por uma profunda reestruturação desde 1999. Na época, a mineradora havia acabado de assumir a participação da Usiminas em várias usinas no país e a seguir comprou as ações da Usinor (atual Arcelor) na atual RDME.

Com isso, integrou suas minas de Manganês do Azul (Carajás) e Urucum às unidades industriais. Um ano depois criou a Rio Doce Manganês (ativos no Brasil), e a filial francesa. A aquisição da Noruega ocorreu em 2003.

Depois de anos de prejuízo no negócio, a Vale viu um crescimento expressivo da receita e da rentabilidade. “Os preços do manganês subiram 63% no ano passado”, informou Nepomuceno. Esse cenário foi favorecido pelo boom mundial de demanda e preços do aço. O consumo agressivo da China por matérias-primas e insumos ajudou a elevar as cotações.

A Vale faturou R$ 2,08 bilhões em 2004 com vendas de manganês e ferro-ligas, quase o dobro da receita do ano anterior. Esse negócio respondeu por 7% da receita bruta da companhia, de R$ 29 bilhões. O lucro chegou a R$ 487 milhões, conforme o balanço da Vale.

Neste ano, a Vale vai investir US$ 93 milhões nas três controladas. O Brasil ficará com US$ 80 milhões e a maior parte irá para modernização das instalações de fábricas na Bahia e Minas Gerais, além de expansões das atuais quatro minas para manter o nível de produção de 2,7 milhões de toneladas de manganês. A capacidade de ligas, na faixa de 400 mil toneladas será mantida. “Vamos buscar maior nível de competitividade”, disse o executivo, que conduziu por seis anos a unidade de Dunquerque.

A RDME ficará com cerca de US$ 6 milhões, destinados para equipamentos de controle

ambiental. A fábrica francesa, que produz aglomerado de manganês (400 mil toneladas) e 140 mil toneladas de ligas tipo alto carbono, tem o maior forno do mundo e atende as maiores usinas de aço da Europa.

O restante irá para a Noruega. Em termos de logística, a RDME tem uma posição competitiva: está instalada ao lado da área portuária de Dunquerque, onde fica um dos maiores pólos industriais da França. São suas vizinhas uma grande usina de aço da Arcelor, um refinaria de petróleo da Total, uma petroquímica, uma laminação de alumínio da Alcan e a maior usina de energia nuclear da Europa, operada pela EDF.

A subsidiária francesa enfrenta o custo de energia para poder crescer. Paga US$ 50 o megawatt (MW), enquanto no Brasil a tarifa varia de US$ 25 e US$ 30 o MW. Na Noruega, onde negocia novo contrato, a tarifa é similar ao Brasil.

O cenário de preços deprimidos das ligas é outro empecilho, frente ao alto custo da energia. Com a alta dos preços para US$ 900 a US$ 1 mil a tonelada no último ano, vários ex-produtores do Leste Europeu voltaram ao mercado. Atualmente, a tonelada é vendida em torno de US$ 600. A expectativa é que volte ao nível anterior no terceiro trimestre deste ano.

Um projeto de expansão previsto é o de uma usina de US$ 150 milhões, em Minas Gerais. Os estudos de viabilidade vão ficar prontos em 2006. O Gabão, onde vem fazendo pesquisas, é uma nova fronteira para crescimento.