Usiminas traça planos para quarto alto-forno
Animada pelo crescimento da demanda nos mercados interno e externo, a siderúrgica Usiminas, segunda maior fabricante de aços planos do país, iniciou estudos para a construção de um quarto alto-forno na usina de Ipatinga (MG). O presidente da empresa, Rinaldo Campos Soares, anunciou o início da análise do projeto em encontro com representantes dos distribuidores de aço. A decisão final sobre o investimento deverá estar tomada num prazo máximo de três anos, conforme informou o executivo. Ontem ele esteve reunido com analistas de investimento na Cosipa.
Nos planos de expansão da siderúrgica estão também uma nova coqueria, investimento de US$ 200 milhões que deverá estar aprovado até o fim deste ano. Soares contou aos distribuidores que a meta é atingir a auto-suficiência em coque. Outros US$ 60 milhões deverão ser aplicados na construção de uma termelétrica, que garantirá a geração de 53% da energia consumida pela siderúrgica.
Para a construção do novo alto-forno, os estudos da Usiminas vão levar em conta a previsão de demanda, preços mundiais e comportamento do mercado externo. Segundo Soares, a siderúrgica quer agir com bastante cautelosa na análise do projeto.
Hoje, com três alto-fornos em operação, a siderúrgica mineira está muito perto do limite máximo de produção. Para atingir neste ano uma produção de 4,8 milhões de toneladas de aço, 300 mil a mais do que em 2003, a companhia precisou colocar em funcionamento até equipamentos antigos que estavam parados, como um forno de reaquecimento de chapas.
A capacidade dos três alto-fornos é de 12,4 mil toneladas de ferro-gusa por dia. Os fornos 1 e 2 têm capacidade de 2,15 mil toneladas por dia, cada. O de número 3 produz 8,2 mil toneladas por dia.
Segundo Soares, em sua palestra aos distribuidores, o momento exige investimentos em aumento da capacidade de produção das siderúrgicas de produtos acabados (chapas e galvanizados). Atuam neste segmento a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Vega do Sul. Os investimentos recentes vieram de fabricantes de produtos semi-acabados (placas), como a Companhia Siderúrgica Tubarão (CST).
Nesse cenário de capacidade no limite, algumas usinas, como a CST, já optaram pela expansão de produção, enquanto outras estão no momento focadas em redução da sua dívida. É o caso da Usiminas, cujo endividamento corresponde hoje a uma vez e meia a sua geração de caixa, o que é um pouco mais alto em relação aos seus concorrentes nacionais. Marcelo Aguiar, analista da Merrill Lynch, acredita, porém, que a Usiminas deverá anunciar algum projeto de expansão mais significativo ao longo de 2005.
O próprio presidente da Usiminas afirmou há poucos dias, quando divulgou o balanço do segundo trimestre, que a prioridade da empresa era reduzir o endividamento e que não havia novos planos de investimentos.
Especialista em siderurgia, o professor da Universidade Federal de Uberlândia Germano Mendes de Paula concorda. “Estamos acabando um ciclo de investimento em ‘mix’ de produtos, que foi de 1994 a 2004, e agora vamos entrar num ciclo de investimentos de maior escala no aumento da capacidade instalada.”
Entre 1998 e 2004, foram inauguradas 15 novas laminações no país e apenas um novo alto-forno, o da CST. A própria Usiminas investiu em laminação a frio e galvanização. “O gargalo é o alto-forno”, disse o professor. “E não é algo particular da Usiminas. Todas as outras estão nesta situação.” Em muitos casos, investimentos em novos alto-fornos implicam em projetos de expansão também da aciaria e dos laminadores.
No encontro com os distribuidores, o presidente da Usiminas não quis entrar em detalhes sobre os planos para o quarto alto-forno. Sobre a coqueria, no entanto, ele revelou mais informações. As cotações para a compra do equipamento já foram iniciadas. A idéia é, numa primeira fase, produzir 550 mil toneladas de coque por ano. Em uma segunda fase, a capacidade poderá dobrar, chegando a 1,1 milhão de toneladas. A previsão é de que a coqueria entre em funcionamento até o início de 2008.
Na semana passada, Soares afirmou que as vendas em 2004 deverão superar as previsões do Instituto Brasileiro de Siderurgia, chegando a 10% de crescimento no segmento de aços planos. De acordo com ele, o aumento das vendas no mercado interno é consequência do bom desempenho das indústrias exportadoras, como a automobilística, naval e eletroeletrônica.