Terceirização da manutenção
Terceirização da manutençãoTerceirizar parte de sua estrutura de apoio foi uma das estratégias adotadas pelas empresas brasileiras, no início dos anos 90. 0 objetivo foi concentrar a sua atuação no core business, buscando ganhos de produtividade, eficiência operacional e níveis de competitividade compatíveis com o padrão dos grupos estrangeiros que estavam entrando no mercado nacional, aproveitando a abertura patrocinada pelo governo. Dados da Secretaria de Desenvolvimento Regional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), apurados com base em pesquisa realizada com 33 grupos brasileiros entre 1989 e 1995, indicam que houve um aumento de 132,84% na terceirização de etapas produtivas.
A área de manutenção seguiu essa tendência. Pesquisa feita em 1994 pela Boucinhas & Campos, com uma amostra de 257 empresas brasileiras de médio e grande porte, concluiu que 41% adotaram a terceirização. Os serviços de manutenção ficaram entre os primeiros da lista, caracterizando uma tendência de gestão que alcançou 22,97% dos serviços contratados em 1997 e chegando a 38,88% em 2001, conforme o Documento Nacional da Abraman sobre a situação do setor, divulgado em 2002. Mas o cenário é de mudanças.
A Petrobras é uma das maiores contratantes de mão-de-obra de terceiros para serviços de manutenção. Chegou a ter 70 mil funcionários há 20 anos e hoje reduziu o quadro funcional para cerca de 34.500 trabalhadores, optando por um processo de terceirização que conta com 100 mil pessoas contratadas. Há três trabalhadores terceirizados para cada funcionário; nas plataformas marítimas, a relação é de cinco por um.
Terceirização da manutenção na construção
Terceirização da manutenção comercial
Contudo, os graves acidentes ocorridos nos últimos anos em instalações da companhia de petróleo estão provocando uma reversão neste quadro. “Algumas empresas pioneiras no processo de terceirização, como a Petrobras, estão revendo sua política e optando por pessoal próprio em atividades nas quais não deu certo a experiência, pois a qualificação dos contratados não alcançou o nível desejado”, revela o diretor regional da Abraman no Rio de Janeiro, engenheiro José Ricardo de Andrade Fanara. Ele prevê, com isso, uma tendência de menor crescimento e até mesmo de estabilização da participação dos serviços de terceiros na manutenção.
Otimização de desempenho
A maioria das empresas brasileiras mantém manutenção própria e as que terceirizam parte dos serviços optam pelo controle direto dos contratados. “Predomina a terceirização da mão-de-obra e não da manutenção, porque as empresas apenas reduzem o custo homem/hora com a contratação de terceiros, desperdiçando a oportunidade de otimizar o desempenho e a eficiência das peças e máquinas”, critica o gerente-geral da Bardelta-Timken, de Guarulhos (SP), Júlio César Enge Raele. Ele defende a necessidade de uma mudança na cultura empresarial, para a obtenção de melhores resultados.
Conceitos equivocados
Com a experiência de uma empresa com forte inserção em prestação de serviços especializados, inclusive para grandes companhias, Raele adverte que conceitos equivocados sobre a terceirização, buscando apenas a redução de custos, distorcem os reais objetivos deste processo de trabalho.
Terceirização da manutenção na indústria
Terceirização da manutenção industrial
“Quem terceiriza pensando apenas em economia está totalmente errado. A terceirização consiste na transferência de responsabilidade pela realização de um serviço especializado a quem está capacitado, inclusive com tecnologia e mão-de-obra para fazê-lo com mais qualidade do que a empresa contratante”, explica o gerente-geral da Usiminas, Rômel Erwin de Souza. Mas, por razões operacionais, a Usiminas não terceiriza atividades consideradas estratégicas para o bom desempenho da usina Intendente Câmara, localizada no município mineiro de Itapatinga, mas contrata manutenção da ABB.
“A terceirização da manutenção tem sido uma tendência forte nos últimos cinco anos na siderurgia e em outros setores da indústria brasileira”, revela o gerente-geral da área de full service em papel e celulose e siderurgia da ABB, João Batista D’elia. Ele informa que este ano a sua empresa assumiu a manutenção de parte da área de laminação Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), absorvendo cerca de 500 funcionários da FEM, uma subsidiária da usina Presidente Vargas, encarregada pela área de relaminação.
Na área de papel e celulose, a Companhia Santista de Papel destaca-se como uma das empresas que contratam serviços de terceiro, na Baixada Santista, para complementar sua força-tarefa na área de manutenção. Isso porque, do seu quadro funcional de 350 pessoas, só 15% se dedicam exclusivamente à manutenção.
“Quando há paradas anuais programadas, somos obrigados a contratar mão-de-obra de terceiros para agilizar os reparos num tempo máximo de 12 horas”, explica o gerente de Manutenção, Otto Padilha Kossling. Em média, a empresa agrega ao quadro cerca de 40 terceirizados, número que ultrapassou 86 numa parada de 48 horas, para instalação de uma máquina, conta Kossling. Ele reconhece que, sem o reforço externo, seria difícil cumprir o cronograma de trabalho no tempo desejado.
Terceirização da manutenção na indústria quimica
Terceirização da manutenção na indústria quimica
Suas atividades se estendem ainda à manutenção corretiva e preventiva, embora esteja nos planos futuros adotar a preditiva. A empresa sempre dá preferência à contratação de serviços de firmas com experiência em serviços com indústrias de papel e celulose, mas com grande especialização em atividades específicas. 0 gerente acredita ser possível, dessa forma, assegurar uma melhor troca de informações com a fornecedora, “que fala a mesma linguagem técnica dos profissionais do quadro funcional”.
Ainda na Baixada Santista, a Companhia Brasileira de Estireno tem uma equipe 42 pessoas no trabalho cotidiano de manutenção, sendo 19 próprios (mecânicos, instrumentistas, eletricista e planejadores) e 23 contratados (serviços gerais, caldeiraria, tubulações, pintura e isolamento térmico). São contratados serviços externos de recuperação de motores elétricos, retubulações de trocadores de calor, usinagem e de ares-condicionados. Quando a necessidade aperta, a demanda cresce e a empresa chega a contratar 300 prestadores de serviço nos 20 dias de parada anual de manutenção preventiva.
Para certas atividades, explica o coordenador de Manutenção Rui Gadelho, o profissional precisa ter uma espécie de certificação. “Exigimos a qualificação do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) para os trabalhadores terceirizados”. As tarefas que exigem maior capacitação são: manutenção em média tensão/cabine primária; termografias, análise de óleos de transformadores, isolamento térmico e refratário; hidrojateamento de alta pressão e guindastes.
Diante das exigências do mercado, a Abraman lidera um movimento para qualificar mais a mão-de-obra no setor, já que 44,9% não é especializada. “A complexidade dos ativos modernos exige uma maior capacitação do pessoal”, destaca o coordenador de Comunicação da entidade, Rogério Arcuri Filho.
Metodologias mais sofisticadas começam a ser adotadas, com o uso de equipamentos de medição de desgaste e desempenho de peças e máquinas tecnologicamente mais avançadas, exigindo alto grau de especialização dos operadores e provocando um movimento de terceirização de pequena dimensão, mas sem condições de substituição. A manutenção preditiva se encaixa neste perfil e envolve clientes de grande porte, pelo seu alto custo de contratação e retorno assegurado em ganhos de escala.
A empresa australiana Monitek, presente no Brasil há cerca de um ano, é uma das que atuam na prestação de serviços de manutenção preditiva, cujo foco de atuação é baseado na análise do desgaste dos equipamentos de uso na indústria. 0 investimento inicial da prestadora de serviço envolve algo em torno de US$ 50 mil na compra de software e de instrumentos de análise, além dos gastos com treinamento do profissional altamente especializado para sua operação. É por isso, segundo o gerente técnico comercial da Monitek, José Luís Pimentel, que muitas empresas preferem contratar a manutenção.
As visitas às instalações industriais para o monitoramento dos equipamentos envolvem, em média, um dia por mês, mas são suficientes e evitam paradas não-programadas, que teriam altos custos para o cliente. Atualmente, a multinacional australiana é a única no mercado brasileiro que atua no monitoramento de máquinas com altas taxas de variação de velocidade, por análise de vibração, o que torna seus serviços insubstituíveis em determinadas atividades industriais.
Salto de qualidade
Com a automatização de processos industriais, a terceirização deu um salto de qualidade, segundo Constantino Petroffi, diretor da Semapi Consultoria de Informática, com sede em Campinas, e especializada em soluções para essa área. A lista de serviços inclui planejamento, controle na execução de serviços, planos de trabalho e consultoria para a aplicação de sistemas na gestão de manutenção das empresas.
Com desenvolvimento de softwares e hardwares próprios, a empresa oferece aos clientes a integração total das atividades de manutenção com os sistemas corporativos (ERP’s) e supervisórios de controle dos processos de manufatura. “As empresas terceirizam esta área para ter um planejamento especializado, racionalizando atividades que poderiam sair mais caras com a contratação de mão-de-obra própria para algo que não necessitariam em tempo integral”, observa Petroffi.
A Bauducco, um dos clientes da Semapi, explica porque optou pelos serviços da empresa.”Comparamos os custos de contratação de pessoal próprio e as propostas de serviços externos e chegamos à conclusão que a terceirização seria mais negócio”, afirma o chefe de manutenção da fábrica de biscoitos da Bauducco, em Extrema (MG), Roque Almeida Júnior. De fato, por ser um serviço altamente especializado, a saída era chamar alguém de fora. Três profissionais realizam o monitoramento dos equipamentos e o planejamento da manutenção, possibilitando agilidade, velocidade no atendimento e um melhor custo-benefício.
Caso extremo envolve a manutenção da fábrica de caminhões da Volkswagen, em Resende, (RJ), onde todas as atividades são executadas por terceiros que operam na linha de produção. “Apenas cinco engenheiros com carteira assinada pela montadora controlam os processos terceirizados de operação e de manutenção, cobrando dos prestadores de serviços o cumprimento dos índices de eficiência e de qualidade estabelecidos em contrato”, explica o engenheiro de manutenção da área mecânica da unidade industrial, Geraldo Ramos Nogueira, um dos controladores do sistema.
0 projeto foi idealizado de forma que o fabricante de cada peça se responsabilize pela sua fabricação, montagem e manutenção na linha de produção, por ser sua especialidade. Com isso, a equipe de gerentes da Volks concentra suas atividades no seu core business – o processo geral de montagem do veículo – além de estreitar os vínculos com os fornecedores. 0 modelo da unidade foi pioneiro em 1995 e hoje se estende aos novos projetos de montadoras de outras marcas no Brasil.