Setor busca maior escala, mas teme o ciclo de baixa
Primeiro foram os metais, agora são as empresas que os extraem. Em maio, os preços do cobre, níquel e outros metais subiram a níveis recordes, embora tenham ensaiado uma pequena queda e nova alta desde então. Agora, três mineradoras estão propondo a fusão mais cara na história do setor. O acordo de US$ 40 bilhões, pelo qual uma empresa dos EUA, a Phelps Dodge, pretende comprar duas outras canadenses, a Inco e a Falconbridge, poderá criar a maior produtora mundial de níquel, a segunda maior em cobre e a quinta maior mineradora no agregado. Os recordes podem não parar por aí: as mineradoras Xstrata e Teck Cominco já haviam apresentado ofertas pela Falconbridge e Inco, respectivamente. Na sexta-feira, a Xstrata estendeu até 21 de julho sua oferta pela Falconbridge.
A disparada nos preços das commodities deixou as mineradoras transbordando em dinheiro vivo e ansiosas por se expandirem. Uma forma seria ir atrás de mais metal no solo, em vez de dirigir-se ao mercado acionário. Mas o crescimento orgânico é caro no momento: enquanto as companhias correm para aumentar a sua produção para tirar vantagem dos preços elevados, cada insumo concebível, desde os engenheiros aos enormes pneus dos caminhões de mineração, está em oferta terrivelmente baixa. Desenvolver novas minas também é um processo lento. Os executivos do setor de mineração temem que os projetos que recebem sinal verde quando os preços estão em alta não parecerão tão atraentes quando sobrevier a próxima queda brusca nos preços.
Esta afirmação também pode se aplicar à fusão proposta, é claro. A Phelps Dodge ofereceu um ágio de 23% sobre o preço dos papéis da Inco e de 12% sobre os da Falconbridge. Estes papéis, por sua vez, têm mantido tendência de alta por vários anos, junto com as mercadorias da empresa – o níquel, na sua maioria na Inco, e níquel e cobre na Falconbridge.
Os dirigentes das empresas insistem em afirmar que a elevação do preço é justificada. Em primeiro lugar, eles avaliam que podem extrair economias de US$ 900 milhões ao ano da empresa combinada até 2008, compartilhando equipamento e pessoal em minas adjacentes, por exemplo, e dividindo entre si o pessoal de marketing. E, ainda mais importante, argumentam que o porte e a diversidade da nova companhia poderá torná-la menos vulnerável aos penosos ciclos da mineração e, portanto, mais atraente para investidores.
As mineradoras mais diversificadas e de maior porte, como BHP Billiton e Rio Tinto, ostentam avaliações mais elevadas das ações. Elas produzem de tudo, do alumínio ao zircão, e são menos suscetíveis a flutuações na cotação de qualquer metal em particular. Segundo o mesmo raciocínio, quanto mais minas a empresa administrar ou desenvolver, e quanto maior o número de países em que atuar, menor será o risco que cada projeto representará aos lucros.
O trio resultante da fusão certamente terá uma dispersão geográfica mais ampla, com minas em cinco continentes. Seus principais projetos, no entanto, em lugares estáveis como os Estados Unidos, Canadá e Chile, jamais aparentaram ser tão arriscados. Além disso, apesar de ter artigos secundários no cobalto e no molibdênio, a sorte do novo negócio dependerá principalmente do preço do cobre e do níquel – dois dos metais mais voláteis ultimamente.
Alguns analistas dizem que a Phelps Dodge se lançou nessa fusão para ela própria se salvar de ser adquirida. Os investidores parecem partilhar as suas dúvidas: as ações da Phelps caíram 8% após anunciar o acordo, apesar da promessa de gastar US$ 5 bilhões em um plano de recompra de ações assim que a fusão for concluída.
Por outro lado, os preços do níquel e do cobre deram um salto com a divulgação da notícia. Os operadores do mercado parecem ter presumido que as empresas só teriam contemplado um acordo tão dispendioso se tivessem concluído que os metais continuariam escassos por algum tempo.