Segurança no trabalho X eletricidade
Segurança no trabalho X eletricidadeA experiência profissional e todos os conhecimentos técnicos e teóricos podem fazer com o trabalhador se descuide de alguns itens primordiais na ocasião em que vai manusear um determinado tipo de equipamento ou entrar em contato com a eletricidade em altas cargas de voltagem. Na certeza de suas habilidades, o operador dispensa os equipamentos de segurança e, por vezes, ignora muitas normas estabelecidas dentro da empresa. As indústrias, por sua vez, mesmo tendo um planejamento que vise à segurança no trabalho, não dispõem de fiscalização em tempo integral e nem se dão conta dos riscos iminentes que os funcionários correm diariamente.
Para evitar esse tipo de problema, bem comum em muitas indústrias brasileiras, os gestores mantêm uma preocupação constante em incluir no planejamento uma série de ações que tenham por objetivo conscientizar os trabalhadores sobre as necessidades de uso de EPI’s. O mesmo vale para as organizações, pois precisam investir periodicamente em equipamentos de segurança, treinamento e capacitação dos seus recursos humanos. É papel da gestão de pessoal elaborar projetos e ações para proporcionar maior conscientização em todos os participantes no sistema de produção e na manutenção.
A construção de ambientes mais seguros ganhou maior força desde a publicação do novo texto da NR-10, por meio da portaria 598/04, do Ministério do Trabalho e Emprego. A partir disso, aumentou a preocupação das empresas em torno dos riscos associados à utilização da eletricidade em serviços de manutenção e instalações. Atualmente, não existem estatísticas detalhadas em pesquisas e documentos oficiais que comprovem a taxa de acidentes de trabalho relacionada ao manuseio incorreto de circuitos elétricos, porém, segundo relatos das próprias empresas e de estudos específicos realizados por pesquisadores no assunto, esse tipo de acidente é mais comum do que se imagina.
As informações mais recentes e detalhadas que se tem sobre esse assunto são pesquisados pela Fundação COGE, órgão mantido pela Eletrobrás e outras empresas do setor elétrico nacional. Por intermédio de um comitê de trabalho específico, o Comitê de Segurança e Saúde no Trabalho, o Coge divulga dados sobre a forma como os acidentes acontecem e com que frequência. As pesquisas realizadas pelo comitê não se restringem apenas a divulgar os números totais de acidentes de trabalho no setor elétrico. Por isso, são elaboradas classificações e estratificações a cerca de todos os tipos de acidentes ocorridos com os funcionários próprios e terceirizados, bem como as circunstâncias envolvidas.
Os números e informações revelam que, mesmo na construção civil, muitos incidentes acontecem pela falta de aterramento adequado, o que acaba gerando descargas intensas de eletricidade nos operadores. Um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro do Cobre mostra que grande parte das edificações na cidade de São Paulo não possuem segurança nas instalações elétricas. Além disso, a substituição de técnicos especializados como eletricistas e eletrotécnicos por operadores. Com o motivo de flexibilizar os cargos, muitas empresas modificaram totalmente o plano de cargos. O resultado desse tipo de atitude é a maior exposição dos trabalhadores a riscos sem que sejam capazes de lidar de forma adequada com tarefas que exigem conhecimento específico.
Para esclarecer um pouco o assunto, de extrema importância no setor industrial elétrico e de manutenção, o Manutenção & Suprimentos conversou com o Engenheiro elétrico Milton Augusto Galvão Zen, gerente de Coordenação de Segurança do Trabalho da Mercedes-Benz do Brasil.
M&S- Como você vê a importância dos equipamentos de segurança nos setores de manutenção em tarefas que envolvam o manuseio de circuitos elétricos?
Milton Zen – São de extrema importância para a execução dos trabalhos com segurança. As empresas brasileiras estão cada vez mais atualizadas e tem procurado disponibilizar os melhores equipamentos e ferramentas para se atuar adequadamente. Eu diria que a oportunidade de melhoria é na correta e adequada utilização desses equipamentos e ferramentas. A questão crucial é o comportamento do profissional e sua vontade de utilizar o que dispõe. É óbvio que cabe às empresas disponibilizarem recursos financeiros para a compra de equipamentos e ferramentas atualizados à necessidade do trabalho. Devem também providenciar a informação e o treinamento para uso dos mesmos. Na seqüência é primordial cobrar e fazer usar os mesmos. A questão comportamental depende única e exclusivamente do trabalhador. Ao empregador cabe cobrar a disciplina operacional. Se o trabalhador deixar de cumprí-la, se deve aplicar os princípios disponíveis na CLT.
M&S – De acordo com o que já citamos anteriormente na matéria, muitas empresas substituem os profissionais especializados em elétrica por outros sem nenhum tipo de conhecimento específico no setor. Em prol da “flexibilidade” no plano de cargas, elas sujeitam os trabalhadores a diversos riscos. Como você analisa essa atitude?
Milton Zen – Esta atitude é incorreta e não condiz com os aspectos éticos e de valores empresariais. As empresas que o cometem correm sério risco de serem afastadas do mercado pelos clientes. Profissionais que assim trabalham estão sendo colocados à margem, pois são danosos ao sistema profissional. Tenho certeza de que a cada dia que passa, as cobranças da sociedade são maiores. Ninguém deseja que seu filho, parente, ou amigo trabalhe em uma empresa que desrespeita um ser humano. Assim, o boca a boca vai eliminando aos poucos tais empresas. Essa é a nova regra do mercado. Ética é imprescindível.
M&S – Completando seis anos, a nova NR-10, incentiva os profissionais a conheceram de forma mais aprofundada os riscos e perigos oferecidos pela eletricidade. Em sua opinião, acha que realmente os trabalhadores têm se preocupado mais com essa questão?
Milton Zen – Tenho certeza de que estão. Apesar da questão comportamental ser ainda uma grande oportunidade de melhoria, os profissionais da eletricidade tem buscado maior proteção. Notícias ruins sobre a morte na área ainda existem e se propagam rapidamente em nosso meio. Isso faz com que haja uma maior reflexão sobre os perigos da eletricidade. Sou também engenheiro eletricista e atuo na área de segurança do trabalho, prevenção de riscos industriais e de operações, e sou um daqueles que busca aprimorar aqueles que com quem trabalho. É uma obrigação profissional e moral.
M&S – Investir mais em treinamentos e workshops sobre segurança do trabalho é primordial para as empresas. De acordo com seus conhecimentos, isso já é uma constante em grande parte das organizações?
Milton Zen – Ainda não, mas está caminhando. Os treinamentos que as empresas tem evitado cortar são justamente aqueles que são obrigatórios. Quanto aos demais, são realizados conforme disponibilidade financeira. É lógico, que cabe também aos profissionais buscarem sua atualização técnica e humana. As empresas contratam hoje profissionais que muitas vezes já estão prontos para atuar adequadamente e um dos pontos cruciais é o da segurança do trabalho. Repare que muitos dos treinamentos proporcionados pelas empresas estão focando também a base comportamental. Como falei anteriormente, o profissional estar engajado com o objetivo de desenvolver seu trabalho em um ambiente seguro é primordial. A disciplina operacional é uma questão fundamental.