Produção chinesa de aço ameaça fabricantes nacionais

O rápido crescimento da produção de aço da China e a perspectiva do país asiático se tornar um vendedor externo líquido estão ameaçando os exportadores siderúrgicos brasileiros, disse ontem o presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Luiz André Rico Vicente.

A China, maior produtora mundial de aço, foi responsável por cerca de 31% da produção de aço bruto em 2005, comparado aos 2,8% do Brasil, nono produtor global. De 2000 a 2005, a produção de aço chinesa subiu 30%, para quase 350 milhões de toneladas. As exportações são chave para o Brasil, que exportou 43% da sua produção de aço de 31,6 milhões de toneladas no ano passado, já que a demanda doméstica continuou estagnada.

Citando um estudo da consultoria internacional McKinsey, Vicente disse que o déficit líquido de aço da China, de 10 milhões de toneladas em 2004, é visto como capaz de se transformar em um superávit de 35 milhões de toneladas, principalmente de produtos de aço, em 2010. “É uma ameaça a produtores brasileiros”, disse Vicente em uma conferência no Rio de Janeiro.

A China pode se tornar uma significativa exportadora indireta por meio de materiais de construção, maquinaria e peças automotivas. No entanto, o vice-presidente de projetos estratégicos da siderúrgica Gerdau, Ruy Lopes Filho, afirmou que o forte crescimento econômico chinês significa que o país continuaria um grande importador de aço bruto.

“É um consumidor massivo e vai manter a demanda mundial crescendo em cerca de 5% ao ano”, disse depois de falar na conferência. “Eu vejo a China como uma oportunidade, mas na medida em que a capacidade de produção cresce, ela pode se tornar uma ameaça nas exportações.” Perguntado sobre as perspectivas de preços do minério de ferro, Lopes afirmou que a demanda por placas de aço – um barômetro do mercado – estava aumentando, e que uma alta de preços entre 10 %e 20% é possível este ano.

Referindo-se ao crescente domínio da China no mercado mundial de aço, Vicente sugeriu ao governo que reduza impostos para siderúrgicas domésticas a níveis similares aos dos competidores. Falando a cerca de 230 delegados de 15 países, Vicente disse na conferência que o governo deveria enfraquecer o real, que se fortaleceu bastante desde a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em outubro de 2002.