Os próximos dez anos serão decisivos para o planeta

Não resta dúvida que a atividade humana impactou o clima e há um tempo-limite a fim de reverter o fenômeno. Se for ultrapassado o limite de concentração de dióxido de carbono de 480 partículas por milhão, haverá consequências climáticas irreversíveis.

O alerta partiu do ex-presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, conselheiro do Instituto Akatu e CEO do Yázigi Internexus, convidado para o debate “Rumo ao Desenvolvimento Sustentável – Desafios e Oportunidades”, na reunião do Conselho Superior de Meio Ambiente (Cosema) da Fiesp, nesta terça-feira (27).

Inicialmente, Young avaliou as recentes crises do capitalismo mundial – a das mudanças climáticas e a econômica, iniciada em 2008 – como elementos-chave para rascunhar os novos parâmetros da próxima década, reforçando que os próximos dez anos serão decisivos para o planeta.

Os efeitos colaterais dessas crises trazem à tona inúmeras questões, como o mecanismo de auto-regulação do mercado e seus limites, além de uma redefinição do papel do Estado na economia. E valeu uma crítica: O Estado é “falho” quanto às questões socioambientais.

“A economia de baixo carbono significará, talvez, um novo ciclo da própria industrialização, reinventando as formas de produzir e consumir”, apontou, ao tratar da descarbonização e fazendo a ressalva que ela deve levar necessariamente a mecanismos de inclusão social.

O palestrante avaliou que se vive um momento de transição, que deverá envolver inclusive a rearticulação dos vários papéis dos atores sociais, econômicos e políticos, quando a democracia brasileira chega ao seu ponto de maior amadurecimento.

O presidente do Cosema, Walter Lazzarini, provocou Young se não é uma bondade, uma tentação, o País contar com o pré-sal quando se fala tanto da descarbonização e do incremento de suas fontes renováveis.

Para o ex-presidente do Ethos, é preciso avaliar a questão do pré-sal em um contexto de demanda exponencial por energia nos próximos 30 anos.

“Achar que não precisaremos mais do petróleo [em sua matriz energética] não é verdade, mas ele deve ser preservado para fins mais nobres. A ideia de se investir no pré-sal é uma oportunidade de aportar recursos adicionais em uma estratégia de desenvolvimento diferenciada. É uma oportunidade, mas também tenho muitas dúvidas”, refletiu.

Brasil na frente em termos competitivos

Young elencou as vantagens competitivas do Brasil, comparando-o com outros países do BRIC, em especial, Índia e China. Enquanto o País conta com cerca de 70% de sua matriz energética baseada em recursos renováveis e conta com 20 milhões de pessoas na linha da pobreza absoluta para serem incluídas socialmente, são mais complexos os desafios a serem enfrentados pelos outros países.

A Índia tem de 70 a 80% de sua matriz energética dependente de fontes não-renováveis, altamente poluentes, e a China, 95%. Aquele país contabiliza 250 milhões de pessoas na linha da pobreza absoluta e a China tem números ainda superiores.

Para que essa vantagem competitiva brasileira não se perca, não se devem adotar ações equivocadas. Young destaca algumas:

1. Promover decisões de curto prazo a fim de resolver gargalos – especialmente na área de infraestrutura, transporte e energia –, que a longo prazo debilitará a vantagem estratégica atual em relação a uma economia de baixo carbono.

2. Qualquer alteração no regime climático poderá afetar seriamente a produção energética essencialmente hídrica.

3. Não apostar em tecnologia, pois a economia de baixo carbono requer altos investimentos em inovação. O atual capital humano é pouco qualificado para o tamanho do desenvolvimento que há pela frente, especialmente quanto à formação de engenheiros e cientistas.

Solange Sólon Borges, Agência Indusnet Fiesp