Mineradoras vêem desafios em meio à alta de preços
Por Marcelo Teixeira
SANTIAGO (Reuters) – Mineradoras com operações na América Latina têm desfrutado nos últimos anos de um dos melhores momentos do setor na história, em termos de valor da produção, mas parecem estar convencidas de que também nunca os desafios foram tão grandes.
A relativa escassez de grandes descoberdas, as dificuldades políticas e de regulamentação da atividade na região, custos de operação em elevação com projetos em áreas remotas e falta de mão-de-obra altamente capacitada estão entre os principais problemas apontados por executivos após três dias de debates no Chile, no Fórum Internacional de Exploração na América Latina e na Conferência Mundial de Cobre.
“Há um enorme desafio relacionado a conhecimento geológico, capacitação de pessoas para operações cada vez mais complicadas”, afirmou John Thompson, vice-presidente de Tecnologia e Desenvolvimento da canadense Teck Cominco Ltd.
Ele citou projetos em áreas remotas e também em locais de elevada altitude, como no Chile, e disse que avançar no que chama de “Geometalurgia” é essencial.
“Conhecer a fundo os depósitos, sua total potencialidade, oferece um modelo de otimização da atividade de mineração. Um profissional com conhecimento apenas mediano não pode reconhecer o real potencial produtivo ao olhar para uma rocha”, acrescentou.
Raymond Jannas, vice-presidente de Geologia e Exploração da Hochschild Mining plc, diz que grandes descobertas estão cada vez mais raras. Citando números do MEG (Metals Economics Group) ele diz que elas caíram de 32 no período de 1996 a 2000 para apenas 12 de 2001 a 2006.
“Para o futuro, os investimentos terão que crescer. A exploração deverá ocorrer em áreas mais profundas e em novos espaços, talvez o fundo marítimo”, afirmou.
“É um momento de desafios para a indústria de mineração”, disse Eduardo Jorge Ledsham, diretor de Desenvolvimento de Projetos Minerais da Vale. “Há maior competitividade, maior disputa por áreas de exploraçao.”
CUSTOS E POLÍTICA
Hugh Callaghan, presidente do conselho da australiana Tamaya Resources Ltd, uma empresa pequena no setor e que sofre com elevados custos de operação, diz que praticamente todos os principais itens de gastos subiram.
Ele cita diesel, gás natural, insumos como ácido sulfúrico, frete, mão-de-obra e também os royalties cobrados pelos governos, que querem elevar a fatia nos ganhos dos recursos naturais em meio à alta dos preços globais.
“O nacionalismo nos recursos naturais está aí e veio para ficar, gostemos ou não dele”, afirma Callaghan.
“Com o aumento dos impostos e dos royalties talvez os governos consigam se aproveitar do bom momento dos preços, mas eles podem prejudicar o panorama futuro para investimentos”, disse o presidente-executivo da Xstrata Copper, Charlie Sartain. “Há muitas opções de investimento para as mineradoras no mundo”, acrescentou.
A instabilidade política em alguns países da região é citada por David Cox, do Metals Economics Group. Para ele, melhorar o marco regulatório e a infra-estrutura em áreas remotas são essenciais para atrair investimento.
“Possivelmente o investimento em mineração na América Latina continuará crescendo, mas não nos níveis dos últimos cinco anos”, afirmou.
Miguel Cardozo, presidente-executivo da peruana Alturas Minerals, diz que um número cada vez maior de regiões e países está aberto para os investimentos das mineradoras, e que atrair esses investimentos se torna essencial para a América Latina.
“Ainda existem muitas áreas inexploradas, ainda temos potencial importante, mas empresas precisam de regras claras e confiáveis para exploração”.
(Edição de Denise Luna)