Mercado de carbono movimenta as siderúrgicas
Com um olho na responsabilidade ambiental e outro no milionário mercado de crédito de carbono, grandes siderúrgicas estão investindo pesado para diminuir a emissão dos Gases do Efeito Estufa (GEE). Além dos dólares que devem obter com a venda das cotas para a indústria de países que assinaram o Tratado de Kyoto, as empresas brasileiras esperam reverter a imagem de grandes poluidoras nas regiões em que atuam.
A busca pelo rígido padrão de mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL), proposto pelo tratado está baixando custos e melhorando o relacionamento das siderúrgicas com as comunidades vizinhas. Os investimentos das siderúrgicas brasileiras em meio ambiente no período pós-privatizações chegam a R$ 1,6 bilhão, segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), entre 1994 a 2005.
A usina da Belgo, em Juiz de Fora (MG), está investindo cerca de R$ 120 milhões na implantação de dois altos-fornos a carvão vegetal. O investimento, que contempla um programa social e de manejo florestal, deve render à Belgo crédito de cerca de 9,5 milhões de toneladas de carbono entre 2008 e 2015 – 87% do total de 11 milhões de toneladas que o grupo Arcelor Brasil espera obter no período.
Os novos fornos vão ampliar em 360 mil toneladas por ano a capacidade de produção da siderúrgica, que hoje é de 900 mil toneladas de aço e 220 mil de trefilados (arames) por ano. A usina de Juiz de Fora é a segunda maior unidade da Belgo no Brasil em capacidade de produção. A Belgo ainda espera obter outras 9 milhões de toneladas de carbono cujos créditos serão negociados na Chicago Climate Exchange (CCX).
A redução dos GEE com o uso de fornos a carvão é um processo que começa na fotossíntese, explica José Otávio Andrade Franco, gerente corporativo de meio ambiente da Arcelor Brasil: “No crescimento das florestas novas há uma retenção de carbono e o processo de produção do carvão faz a fixação do gás”. Como cada metro cúbico não despejado na atmosfera vale crédito, até o metano produzido na fabricação do carvão é queimado em filtros.
A Belgo de Juiz de Fora está investindo R$ 90 milhões na formação e manutenção de florestas de eucalipto e na construção de unidades de produção de carvão. O eucalipto é plantado por produtores parceiros em áreas de florestas degradadas e pastagens.
O uso de carvão vegetal em altos-fornos não é uma novidade. A Acesita S.A., em Timóteo (Minas Gerais), utiliza o combustível em um dos seus dois fornos há mais de 30 anos. Em 2005, o então presidente da companhia afirmou em matéria publicada pelo Valor que a Acesita iria substituir o uso do coque (carvão mineral importado) pelo vegetal e o gás liquefeito de petróleo (GLP) pelo gás natural, estimando economia de mais de US$ 40 milhões anuais.
Segundo a gerência de comunicação, um estudo completo sobre o negócio ainda passará pela aprovação dos acionistas. Não deve haver nenhuma surpresa com os acionistas, uma vez que o majoritário é a Arcelor-Mittal, que controla a Belgo, CST e Vega do Sul. As três já estão de olho na moeda ecológica. Se o uso do combustível vegetal for mesmo ampliado ao segundo alto-forno, a Acesita deve, de cara, reduzir o custo de produção por tonelada em US$ 40.
A Acesita criou em 1974 a Acesita Energética, subsidiária responsável pela produção de todo o carvão vegetal demandado pela controladora. Ao longo de três décadas, a opção pelo combustível vegetal ajudou a desenvolver os municípios onde as florestas da Acesita foram plantadas. São mais de 126 mil hectares de área, sendo 20% de reserva ecológica e uma área de preservação permanente. Hoje Capelinha, Minas Novas, Turmalina, Itamarandiba e Veredinha têm indicadores de desenvolvimento superiores aos da região como um todo – o Vale do Jequitinhonha, uma das mais pobres do Brasil.
A Energética se tornou benchmark em tecnologia de plantio e colheita de eucalipto. A empresa possui viveiros, banco de matrizes e foi a primeira a produzir clones de espécie no Brasil. Atuando numa região reconhecida pelas condições sub-humanas de trabalho em fornos de carvão, a linha de produção da empresa é toda mecanizada. “Os operadores do corte de eucalipto trabalham em máquinas com ar-condicionado e música ambiente”, diz Marcos Marçal, gerente de comunicação empresarial da Acesita.
O grupo Arcelor Brasil, formado pela Belgo, Vega do Sul e Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), espera obter 11 milhões de toneladas de crédito de carbono em dez anos. A CST em Serra, na Grande Vitória, foi a primeira siderúrgica no Brasil a obter a Redução Certificada de Emissões (CER) – os certificados do crédito de carbono. O projeto de recuperação de gases provenientes dos processos de fabricação na aciaria da CST foi o primeiro projeto do setor aprovado pelo Comitê Executivo das Nações Unidas (UNFCCC).
O processo industrial da aciaria pode produzir em dez anos, 430 mil toneladas anuais de crédito de carbono. Os gases emitidos são reaproveitados em quatro usinas termoelétricas responsáveis pela geração de 286 MW, que tornaram a usina auto-suficiente em energia elétrica. Para Luiz Antônio Rossi, gerente de meio ambiente da CST, “a questão ambiental e a industrial não são antagônicas. Pelo contrário: ao se integrar o sistema de gestão ambiental ao produtivo é possível obter um dos menores custos produção do mundo”.
A Vega do Sul pode somar mais 640 mil toneladas de crédito de CO2 em dez anos para o grupo. O transporte rodoviário de 1,1 milhão de toneladas anuais de bobinas de aço do Espírito Santo para Santa Catarina foi substituído pelo marítimo. A CST opera desde outubro o Terminal de Barcaças Oceânicas no complexo portuário de Tubarão em Vitória. Quatro barcaças estão em operação. Cada uma transporta o que equivalente a 290 caminhões carregados por cerca de 1170 quilômetros entre Vitória (ES) e São Francisco do Sul (SC).
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