Indústria acelera encomenda de máquinas
O início de 2005 trouxe uma indicação importante para o crescimento sustentado da economia brasileira. Fabricantes de bens de capital sob encomenda – máquinas de maior valor agregado e que refletem decisões de investimento mais ousadas, de médio e longo prazo – estão com a produção aquecida, operam com maior utilização de capacidade e registram aumento nas carteiras de pedidos.
O movimento foi detectado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): a produção de bens de capital não-seriados (sob encomenda) cresceu 10,6% em janeiro em relação a janeiro de 2004.
A Companhia Brasileira de Caldeiras (CBC) está operando com 65% de sua capacidade total, ante 45% no mesmo período do ano passado. Na Mausa, empresa especializada em produtos para o setor sucroalcooleiro, a produção nos meses de janeiro e fevereiro cresceu cerca de 25% sobre o mesmo bimestre do ano passada. Na Jung, o prazo para produção dos pedidos de fornos industriais em carteira dobrou, e na Voith Paper a projeção de faturamento já foi revista em 25% , com maior presença das encomendas para o mercado local.
O diretor da pesquisa industrial do IBGE, Silvio Salles, lembra que a evolução da produção de bens de capital para fins industriais foi impulsionada em janeiro pelos equipamentos concebidos por encomenda, com longo prazo de maturação. “Ainda é cedo para afirmar que é uma tendência, mas se a procura por bens personalizados continuar, teremos indicação de que as empresas estão mais seguras quanto ao crescimento do país e resolveram investir em bens de maior valor agregado”, explica.
Em janeiro e fevereiro, o faturamento da CBC teve alta de 20% na comparação com semelhante período do ano passado, informa Rodolfo Rodrigues, coordenador do departamento comercial da empresa. Em março, a CBC espera crescer acima desse porcentual. A maior parte da produção da empresa é de caldeiras – cerca de 58%. Desse total, 40% são pedidos da indústria de papel e celulose, e tudo é vendido no mercado interno.
Rodrigues explica que a elevação do faturamento foi puxada mais pela venda de bens de maior valor agregado do que pelo aumento do número de pedidos. “Em unidades não crescemos muito, mas em valor de investimento, sim. Estamos atendendo a grandes projetos de empresas que estão investindo e ampliando o potencial de produção.”
Na Mausa, há encomendas para serem entregues em até cinco meses. Em 2004, a carteira de pedidos também girava em torno desse período. Egon Scheiber, gerente comercial da empresa, conta que como a fábrica está operando próximo da capacidade máxima, é preciso pedir prazo de sete meses para a entrega, maior do que os cinco meses estipulados ano passado.
A empresa trabalha em dois turnos, mas afirma que há necessidade de um terceiro. Por enquanto, a opção foi por horas-extras, pois está localizada no centro de Piracicaba, interior paulista, e não pode operar durante a madrugada. “Estamos pensando em ampliação para uma nova unidade”, relata Scheiber. Além das centrífugas vendidas para grandes usinas de açúcar, como São Martinho e Grupo Santa Teresinha, a Mausa fornece equipamentos para a indústria farmacêutica e petroquímica.
O economista Johan Soza, da Rosenberg & Associados, afirma que o cenário relatado pelas empresas corrobora a avaliação de que o investimento em bens de capital vai continuar a crescer neste ano, embora não deva apresentar “a taxa maravilhosa de 10,9%” (referente à taxa de formação bruta de capital fixo), vista em 2004. Sua estimativa é de que a formação bruta avance 5,7% neste ano, sendo que o consumo aparente deverá puxar com mais força os investimentos e a construção civil ficará em segundo plano.
Pelos números da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o nível de utilização da capacidade instalada no Brasil chegou a 82,4% em janeiro – o nível mais alto para um começo de ano desde 1992, quando a pesquisa sobre indicadores industriais foi iniciada. “Com alto uso da capacidade, mais a continuidade do bom desempenho das exportações e a tendência de aumento da demanda interna, as empresas já sentem necessidade de expandir o potencial de produção”, completa Soza.
Na Jung, no começo do ano houve avanço entre 50% e 60% na produção de fornos industriais, especialidade da empresa, na comparação com os mesmos meses do ano passado. A produção aumentou em níveis mais robustos a partir do fim do ano passado, entre novembro e dezembro, quando cresceu cerca de 70% na comparação com o mesmo perído de 2003.
Jonas Luchtenberg, gerente comercial da Jung, localizada em Blumenau (SC), comenta que a procura por fornos industriais sob encomenda tem crescido em ritmo acelerado. “Nossos principais compradores são empresas de autopeças. Estamos conquistando novas fatias de mercado, o que faz nossos números serem bastante expressivos”, afirma.
Exemplo desse aquecimento é a extensão da carteira de pedidos. Entre janeiro e fevereiro do ano passado, a companhia tinha encomendas para entrega em dois meses. Hoje, o prazo dobrou. A expectativa é que a produção cresça 50% neste ano, número significativo, pois será sobre uma base forte, já que em 2004 a empresa viu uma alta de 70% nas vendas.
Na Voith Paper, que produz máquinas e equipamentos para indústrias de papel e celulose, as expectativas são animadoras. Após o início do aquecimento do mercado nacional, em meados do ano passado, a empresa espera atingir este ano faturamento de ? 180 milhões, bem acima da previsão inicial, de ? 145 milhões.
Segundo Osvaldo San Martin, diretor de operações da Voith Paper, o cenário é melhor devido às negociações do final de 2004 e início deste ano. Ele negocia pedidos de empresas como o grupo Norske Skog Pisa, único fabricante de papel para imprensa no Brasil, Klabin e International Paper, produtora dos papéis Chamex, que querem aposentar máquinas antigas e aumentar a produtividade. A Klabin, por exemplo, deve fechar seu pedido até setembro. Para essas empresas, os projetos são de grande porte, com máquinas de alto valor agregado e prazo de 12 a 18 meses para serem realizados.
Com a concretização desses novos pedidos, a Voith Paper espera mudar o destino da produção. Atualmente, 60% vai para o mercado externo. A tendência é que o número se inverta e entre 80% e 90% dos produtos sejam destinados para a demanda doméstica.
Martin conta que a empresa está “lotada de pedidos até o meio do ano”. A maioria é de encomendas de produtos que serão incorporados a máquinas já existentes para aumento de qualidade e produtividade. Há também projetos de reforma dos equipamentos. Nesses casos, a Voith leva de seis meses a um ano para entregar. Empresas como Orsa, Aracruz, Klabin e Veracel já fizeram seus pedidos.
A empresa trabalha com um nível de uso da capacidade instalada 25% superior ao mesmo período de 2004. O número de horas trabalhadas também cresceu: no primeiro bimestre do ano, houve avanço entre 10% e 20% , diz o diretor da Voith Paper. Com o aquecimento, as horas-extras já não são mais suficientes para atender à demanda. “Estamos contratando temporários”, relata Martin. O número de empregados no chão da fábrica, atualmente 400, vai crescer 15%, o que representa geração de 60 novos postos de trabalho.