CSN negocia aliança com grupo americano Wheeling-Pittsburgh
O empresário Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), dá mais um passo para fincar bases mais sólidas no mercado siderúrgico da América do Norte. Depois de comprar uma laminadora de porte médio em Indiana alguns anos atrás, agora a empresa firma acordo de negociações para uma aliança estratégica com o grupo Wheeling-Pittsburgh Corporation (WPC).
A WPC é uma holding que controla a Wheeling-Pittsburgh Steel e várias subsidiárias que fazem aços galvanizados, estanhados e até fabricação de coque. Em 2005, a companhia faturou US$ 1,56 bilhão com vendas de 2,2 milhões de toneladas de produtos. Teve um prejuízo de US$ 33,8 milhões. Está sediada em Wheeling, situada nos arredores de Pittsburgh, no Estado de West Virgínia.
Os entendimentos foram oficializados em comunicado conjunto na sexta-feira, após o fechamento das bolsas de valores Bovespa e Nasdaq, onde têm ações listadas. A operação prevê uma participação minoritária da CSN no capital da WPC, um acordo de longo prazo para fornecimento de placas (aço semi-acabado produzido no Brasil que seria finalizado em chapas laminadas a quente nas instalações da Wheeling-Pittsburgh em Ohio) e “outras questões estratégicas”.
Esse caminho está em linha com os planos traçados por Steinbruch para a CSN há pelo menos três anos. Mas eles tiveram de ser adiados devido à forte valorização dos ativos em todo o mundo por causa da expansão da demanda de aço desde 2003. Esse encarecimento foi puxado pelo acelerado consumo da China, que elevou às nuvens os preços do aço e de todas as commodities.
O projeto da CSN prevê produção de material semi-acabado no Brasil, aproveitando-se de custos mais baixos de mão-de-obra e disponibilidade de matéria-prima própria (minério de ferro), e acabamento em laminados nos mercados dos Estados Unidos e Europa. Para sustentar essa estratégia, lançou neste ano um plano de construção de duas novas usinas de placas de aço, com investimento de US$ 3,6 bilhões.
A previsão da CSN é produzir 6 milhões de toneladas, além das que já faz em Volta Redonda (RJ) e ali são transformadas em laminados para automóveis, autopeças, construção, embalagens e bens eletrodomésticos. A primeira usina entraria em operação em julho de 2009, em Itaguaí (RJ), e a segunda um ano depois, em lugar ainda a ser definido.
Hoje, a CSN opera no exterior duas laminadoras. Terre Haute, em Indiana, EUA, faz laminados a frio e aços galvanizados, com capacidade para 800 mil toneladas ao ano. A CSN tem 100% do capital. Na Europa, em Portugal, é dono de 50% da Lusosider, em parceria com a anglo-holandesa Corus. A empresa produz laminados a frio e aço estanhado está apta a fazer 400 mil toneladas por ano.
Segundo apurou o Valor, as conversas com a direção da WPC vinham mornas até um mês atrás, dentro de “um processo de conhecimento e avaliação dos ativos e da situação financeira da siderúrgica americana”. Desde então, evoluíram para um estágio aprofundado de negociações. De acordo com informações, Steinbruch ainda não se encontrou com o chairman e principal executivo da WPC, James Bradley.
A condução das negociações pelo lado brasileiro com os executivos da siderúrgica americana, fundada em 1920, está a cargo de Marcos Marinho Lutz. O executivo, de 36 anos, comanda a diretoria de logística da CSN e, desde o ano passado, tornou-se responsável pela laminadora de aço americana.
A Wheeling-Pittsburgh Steel, que saiu de um processo de concordata em meados de 2003, dispõe de capacidade para produzir 2,8 milhões de toneladas de placas e 3,4 milhões de toneladas de laminados a quente. Ou seja, a empresa tem déficit de material para suprir sua linha de laminação a quente.
Por seu lado, a laminadora da CSN em Terre Haute tem carência de laminado a quente, o qual tem comprado de usinas locais.
Um dos problemas das siderúrgicas americanas, que levou dezenas delas à concordata alguns anos atrás, são os altos custos de operação de seus cada vez mais velhos altos-fornos e as rigorosas restrições ambientais para suas instalações, como coquerias e aglomeradoras de minério de ferro. Além disso, enfrentam os pesados encargos dos planos de saúde e de fundos de aposentadorias de funcionários. Foi nesse cenário que, em novembro de 2000, a WPC entrou com pedido de concordata (“Chapter 11”) na Corte de Justiça americana.
Para contornar o altos custos, a WPC parou de vez em maio de 2005 um de seus altos-fornos, com mais de um século de construção. Ao mesmo tempo, investiu em um forno elétrico, que opera com sucata e não necessita de minério de ferro e carvão, dois itens que ficaram muito caros desde 2004.
A WPC faz aços de alto valor agregado para automóveis, construção e embalagens. Seu perfil é similar ao de CSN. Suas operações estão espalhadas em três estados: West Virgínia, Ohio e Pensilvânia.