CSN, Corus e a saída das siderúrgicas brasileiras
As siderúrgicas brasileiras já exportam, em média, 35% do que produzem, e para crescer precisam assegurar mais mercados no exterior. Daí que todos os atuais planos de expansão ou construção de novas usinas dependem basicamente de associações com grupos estrangeiros que se comprometam a comprar o aço aqui produzido para consumo próprio ou para transformação em produtos finais.
A oferta de compra da Corus (antiga British Steel, depois associada a capitais holandeses) pela CSN faz então todo sentido, embora não se saiba exatamente a dimensão dos desafios (gerenciais, financeiros, societários) que a empresa brasileira terá de enfrentar caso venha assumir o controle da siderúrgico anglo- holandesa. Supõe-se que na negociação que envolveu as duas empresas em passado recente a CSN tenha se informado suficientemente para avaliar a Corus.
A CSN já apresentou uma carta consulta ao BNDES para obter um financiamento destinado à construção de uma ou duas novas usinas de fabricação de placas de aço. Se levar o projeto adiante, a empresa de Volta Redonda será uma competidora da CST (Arcelor/Mittal) e da futura CSA (ThyssenKrupp). Certamente não estará disposta a se arriscar no escuro. Ou seja, precisa ter demanda assegurada para investir o equivalente a bilhões de dólares.
Com a compra da Corus, além de exportar placas de aço para serem laminadas na Europa, a CSN poderá também exportar minério de ferro sem entrar em conflito com a Vale do Rio Doce, pois nesse caso, a venda se faria dentro de um mesmo grupo, e não mais para terceiros (o polêmico contrato com a Vale, contestado junto as autoridades de defesa da concorrência, diz que a CVRD terá preferência sobre o minério de Casa de Pedra se a CSN quiser vendê-lo para terceiros).
O desfecho dessa operação pode influenciar também o projeto da Usiminas para construção de uma nova usina de fabricação de placas de aço no litoral do Sudeste.
George Vidor é colunista de O Globo