China quer boicotar Vale e outras gigantes da mineração
A Associação de Ferro e Aço da China (Cisa) defendeu nesta segunda-feira um boicote de dois meses de seus membros aos três grandes produtores mundiais de ferro, entre eles a brasileira Vale, acusados de se aproveitar de uma situação de monopólio.
Durante uma reunião a portas fechadas na sexta-feira, a Cisa calculou que as atuais reservas de minério de ferro são suficientes para dois meses e estimulou as siderúrgicas a “não comprar das três grandes mineradoras durante dois meses, para boicotar a atitude de monopólio”, informa o portal oficial China.net.
A “três grandes” são a brasileira Vale e as anglo-australianas Rio Tinto e BHP Billiton, com as quais as siderúrgicas de todo o mundo negociam a cada ano os preços da matéria-prima (vigentes até 31 de março do ano seguinte). A Vale do Rio Doce (CVRD) tem 32,8% do mercado, a BHP Billiton 15,1% e a Rio Tinto 18,6%.
O minério de ferro é um dos principais componentes do aço, um material-chave para o setor do automóvel, da construção ou da fabricação de inúmeros bens de consumo. Na Ásia e na Europa, as siderúrgicas criticam cada vez mais as exigências das três gigantes, que tentaram impor fortes altas nos preços este ano, o que os compradores consideram abuso de posição dominante.
Os preços acordados com as siderúrgicas japonesas e sul-coreanas geralmente servem de referência, e algumas delas aceitaram em 2010 aumentos de 80 a 90% nos preços. A BHP Billiton anunciou recentemente que não pretende fixar mais os preços para um período anual para vários clientes asiáticos, e sim para prazos mais curtos.
O acordo acabaria com o antigo sistema de negociação em que o preço do minério de ferro era acertado apenas uma vez por ano, passando a reajustes trimestrais. O atual contrato sobre os preços venceu em 1º de abril. Mas os clientes chineses preferem contratos a longo prazo, que limitem as flutuações de preço.
Segundo a China.net, a Cisa estima que há 75 milhões de t de minério de ferro armazenados nos portos chineses. Em 2009, as negociações entre os gigantes da mineração e as siderúrgicas chinesas fracassaram pela primeira vez em décadas.
Na Europa, a associação Eurofer denunciou na semana passada à Comissão Europeia, que fiscaliza a concorrência na União Europeia (UE), “fortes indícios de coordenação ilícita” entre as três gigantes da mineração para impor aumentos de preço “injustificáveis”.
Por seu lado, o diretor-geral da Associação Mundial de Produtores de Aço, Ian Christmas, indicou que na quinta-feira passada que havia “uma necessidade urgente de que as autoridades da concorrência o mundo examinem o mercado do minério de ferro e o comportamento das três companhias que o dominam”.
Fonte: AFP