Cerca de 90% dos acidentes de trânsito poderiam ser evitados com mudanças comportamentais

Estudos apontam que cerca de 90% dos acidentes de trânsito são causados por falha humana e, portanto, poderiam ser evitados com mudanças comportamentais. Entre as principais causas estão negligência (desatenção ou falta de cuidado ao realizar um ato), imprudência (má fé: velocidade excessiva, dirigir sob efeito de álcool, falar ao celular, desrespeitar sinalização, etc.), imperícia (falta de técnica ou de conhecimento para realizar uma ação de forma segura e adequada).

Outro número alarmante está relacionado aos custos dos acidentes para os cofres públicos. Estudo realizado há quatro anos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) avalia em cerca de R$ 22 bilhões, por ano, o custo econômico dos acidentes nas rodovias federais e estaduais.

Dirigir com segurança requer mais do que pura aptidão para operar um veículo motorizado, requer a adoção de uma atitude preventiva ou conduta segura. “Portanto, a grande maioria dos acidentes de trânsito pode ser evitada com uma simples mudança no comportamento de risco dos usuários da via pública, seja ele o condutor de um veículo, um ciclista, motociclista ou pedestre”, afirma o gerente de consultoria, Dennys Riper, do Centro de Prevenção de Acidentes (CEPA).

Um dos objetivos do módulo teórico dos treinamentos do Centro de Prevenção de Acidentes (CEPA) é conscientizar os participantes do papel que o motorista assume como protagonista nos acidentes de trânsito.

A velocidade e os acidentes de trânsito

A velocidade pode ser tanto um fator agravante quanto a causa determinante de um acidente de trânsito, pois quando um carro colide com um obstáculo, na realidade ocorrem três colisões: do carro, dos passageiros com o interior do carro e dos órgãos internos do ocupante contra a estrutura do seu corpo (esqueleto). Com isso, quanto maior a velocidade, maior o impacto, mais graves as consequências da colisão e maior a possibilidade de morte.

Além disso, a velocidade também aumenta a distância percorrida durante o tempo de percepção e reação, a distância de frenagem e de parada total do veículo, o que provoca a redução das chances do condutor evitar a colisão.

Quando um veículo se envolve em um acidente a velocidade excessiva também pode aumentar a deformação na estrutura do carro, reduzir o espaço interno da célula de sobrevivência, aumentar o contato do corpo dos ocupantes com as estruturas rígidas do veículo e entre os ocupantes.

Veja como a velocidade pode interferir na distância necessária para parar totalmente um carro:

Velocidade Distância total de parada sobre pista de asfalto

Piso Seco Piso Molhado
50 km/h 51 m 62 m
60 km/h 65 m 83 m
100 km/h 140 m 201 m
120 km/h 188 m 279 m
(Note que, ao dobrar a velocidade de circulação, a distância total de parada do veículo quase triplica.)

“Ainda existe no Brasil uma crença incorreta e generalizada de que o acidente de trânsito acontece porque ‘Deus assim quis’, ou seja, o acidente é uma fatalidade e nada pode ser feito para evitá-lo. Porém, como vimos anteriormente, isso não é verdade. A grande maioria dos acidentes de trânsito pode ser evitada. Uma vez consciente de sua responsabilidade o condutor pode e deve praticar uma condução segura e preventiva a fim de evitar os riscos presentes no trânsito”, diz Dennys Riper.

Velocidade e atropelamento

A gravidade dos atropelamentos mantém direta relação com as características físicas e com a dinâmica dos corpos em conflito. O fato de o impacto aumentar em proporção muito maior do que a velocidade, confere aos atropelamentos consequências particularmente severas em decorrência da vulnerabilidade de um corpo frente a um veículo.

O Departament for Transport Britânico* realizou um estudo que comprova a relação entre velocidade do veículo no impacto e gravidade das lesões:

. a 32km/h, 5% dos pedestres atingidos morrem, 65% sofrem lesões e 30% sobrevivem ilesos;

. a 48km/h, 45% morrem, 50% sofrem lesões e 5% sobrevivem ilesos;

. a 64km/h, 85% morrem e os 15% restantes sofrem algum tipo de lesão.

*Fonte: UK Department of Transport Traffic Advisory Leaflet 7/93 (TAU, 1993).