Brasil quer atrair centros mundiais de P&D

O Brasil começa a se preparar para disputar com Índia, China, Taiwan e Cingapura a preferência das empresas transnacionais para instalarem aqui seus centros mundiais voltados para a pesquisa e o desenvolvimento (P&D) de produtos com alta densidade tecnológica. Na semana passada, em São Paulo, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) formalizaram parceria para a elaboração do projeto “Atratividade do Brasil para centros de P&D mundiais”. Os estudos serão executados pela Anpei, num prazo de seis meses, e fornecerão as bases em que o País deverá atuar para sensibilizar as empresas transnacionais.

O Brasil tem condições para exercer essa atratividade (custos comparáveis com países competitivos, posicionamento geográfico, biodiversidade, recursos humanos capacitados etc.), mas – segundo as entidades – nunca contou com uma política estruturada sobre o tema. Com isso, perdeu terreno para países asiáticos que se prepararam para abrigar centros mundiais de P&D e vêm contando com a preferência das empresas.

Estudo recente realizado pela Anpei (“Inovação Tecnológica no Brasil – A industria em busca da competitividade global”) mostra que, depois de a Motorola ter estabelecido seu centro de P&D na China, em 1993, mais de 700 centros estrangeiros foram instalados nesse país. Na Índia, somente a General Electric emprega 2.400 pessoas em P&D em áreas como produtos para aeronaves, bens de consumo duráveis e equipamentos médicos. Companhias farmacêuticas como Astra-Zenica, Eli Lilly, Novartis e Pfizer realizam pesquisas na Índia. “Em relação ao desenho de semicondutores, se a Ásia não desenvolvia quase nada até meados dos anos 1990 – Japão e Coréia eram as exceções –, a região foi responsável, em 2002, por quase 30% do total dessa atividade no mundo”, destaca o estudo. “Entre 2002 e 2004, dos 1.773 projetos de multinacionais envolvendo P&D internacional, cerca de metade (861) foi para países da Ásia e Oceania”.

Por outro lado, na América Latina os investimentos das multinacionais em P&D destinam-se sobretudo à adaptação dos produtos aos mercados locais, a chamada “tropicalização”. “Brasil e México têm alguns exemplos que fogem a essa regra, mas em geral se encaixam perfeitamente nela”. Uma das raras exceções é GM brasileira, que compete com outras subsidiárias do grupo norte-americano pelo direito de projetar e construir novos veículos e de realizar atividades que fazem parte do core-business da empresa global.

Pesquisa da ONU mostra que a China é o destino mencionado pelo maior número empresas (72,1%) para futuras expansões em projetos de P&D. Os EUA vêm em segundo (41,2%), a Índia em terceiro (38,4%) e o Japão em quarto (14,7). O Brasil aparece em 19º lugar, com 1,5% de atratividade.

Entre os pontos a serem abordados no projeto “Atratividade do Brasil para centros de P&D mundiais” estão a identificação, junto às filiais de empresas transnacionais instaladas no Brasil, de oportunidades e interesses para investirem em pesquisa e desenvolvimento no Pais; a estruturação de informações sobre recursos e benefícios disponíveis no País (qualificação da mão-de-obra, fontes de financiamento para inovação, base científica etc.) e a identificação de barreiras e pontos desfavoráveis ao desenvolvimento, no Brasil, de projetos de P&D das empresas transnacionais.