Arcelor vai investir na Belgo e acirrar a disputa com Gerdau
O grupo Gerdau, que detém a liderança do mercado de aços longos no país, vai enfrentar nos próximos anos o avanço da sua concorrente histórica, a Belgo-Mineira. A rival, desde 2002, conta com suporte da gigante européia Arcelor, líder mundial do aço. Arcelor e Belgo já fizeram estudos, que estão na fase final de análise, para expansão das linhas de produção de duas usinas em Minas Gerais.
O montante de recursos, segundo uma fonte, pode chegar a US$ 1 bilhão nos novos projetos da Belgo. Com isso, deverão elevar a capacidade de produção da Belgo no país em mais de 50%. Atualmente, as quatro usinas da siderúrgica – Piracicaba, Monlevade e Juiz de Fora (MG), e Vitória (ES) – têm condições de produzir 3,6 milhões de toneladas de aço bruto por ano.
Os planos da Arcelor para a Belgo é duplicar as unidades de Monlevade e Juiz de Fora, que juntas fazem 2,2 milhão de toneladas.
O argumento para esse crescimento é que tanto Juiz de Fora quanto João Monlevade estão operando no limite de sua capacidade, com vendas no mercado interno e exportações para diversos países. E há perspectivas positivas de crescimento da demanda interna.
O projeto com condições de sair mais rápido é o de Juiz de Fora, cuja unidade alcançaria 2 milhões de toneladas ao ano. O entrave que existia, uma linha de transmissão para levar energia até a usina, já foi solucionado.
Neste ano, a companhia mineira concluiu a duplicação de sua usina de Piracicaba, a 130 quilômetros de São Paulo. A fábrica ficou apta a produzir 1 milhão de toneladas, para atender a demanda paulista.
Na Argentina, com o controle da Acindar, que produz 1,2 milhão de toneladas, a Belgo domina mais de 50% do mercado. O Gerdau, com a crise do país em 2001 e 2002, uniu suas duas operações em uma única companhia, na qual é dono de 38% do capital. A siderúrgica tem cerca de 20% das vendas locais.
Os planos da Arcelor, cujos detalhes estão sendo discutidos em uma reunião fechada dos executivos desse ramo de negócio em Angra dos Reis (RJ), envolvem também uma futura expansão da Acindar, que complementa a Belgo em sua estratégia no Mercosul. A empresa teve sua crise financeira de anos atrás saneada.
Esse movimento abre um embate pelo mercado local e da América do Sul entre a brasileira Gerdau, que ontem anunciou sua fábrica paulista, e o grupo europeu. A Arcelor já demonstrou que quer fazer da Belgo sua plataforma para ocupar espaços no mercado de aços longos das Américas, onde a Gerdau já tem uma forte base montada, principalmente nos Estados Unidos.
A usina que a Gerdau põe em operação em maio de 2005 no município de Araçariguama (SP) vai aumentar a disputa pelo mercado de vergalhões no Estado de São Paulo, que representa de 30% a 35% da demanda nacional do setor – cerca de 2 milhões de toneladas ao ano. O grupo supre metade do consumo paulista a partir das usinas Cosigua (RJ), Divinópolis (MG) e Guaíra (PR), mas a nova fábrica deve garantir ‘alguma melhoria’ na sua fatia graças a custos ‘mais competitivos’ com ganhos logísticos do abastecimento local, disse ontem Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do grupo.
Segundo ele, a usina de Araçariguama será construída em duas fases. A primeira inclui a operação da aciaria a partir de 2005, com capacidade instalada de 900 mil toneladas/ano, e do laminador de vergalhões em abril de 2006, com 600 mil toneladas. Três anos e meio depois, Gerdau prevê que a capacidade para aço bruto deve subir para 1,3 milhão de toneladas e a de laminados para 1,2 milhão.
O investimento total no projeto é de R$ 750 milhões. A primeira etapa custará R$ 500 milhões, financiada com recursos próprios (20%), fornecedores de equipamentos (25%) e BNDES (55%). Na segunda, investirá mais R$ 250 milhões e a proporção de capital próprio deve aumentar, em função da própria geração de caixa da usina.
Segundo o empresário, a decisão de descongelar e acelerar o projeto, anunciado pela primeira vez em fevereiro de 2001, deveu-se à retomada do mercado brasileiro. ‘Hoje, a construção civil voltou a patamares e ritmo de 2002’, comentou. Nos segmentos industriais, que incluem aço para o setor automotivo e máquinas agrícolas, o crescimento da demanda também é forte devido ao aumento de exportações de manufaturados.
As boas perspectivas são acompanhadas pelo aumento geral da capacidade de produção do grupo no país, que deve passar de 7,6 milhões de toneladas atuais de aço bruto para 10,5 milhões no fim de 2007, disse Johannpeter. Essa expansão de quase 3 milhões de toneladas inclui Araçariguama e incrementos em outras usinas do grupo e a primeira etapa de ampliação da Açominas, de 3 milhões para 4,5 milhões de toneladas.
Depois de comprar mais quatro usinas nos EUA, a Gerdau quer ocupar ‘espaços vazios’ entre a América do Norte, onde domina capacidade de 8,6 milhões de toneladas/ano, e a América do Sul, exceto Brasil, com 500 mil toneladas na Argentina, Uruguai e Chile. Johannpeter diz que o grupo está analisando o mercado mexicano há dois ou três anos e que o mercado a ser conquistado na América do Norte ‘não está no fim’.
Com a Belgo, o grupo Arcelor poderá elevar sua produção, apenas no Brasil e Argentina, para próximo de 8 milhões de toneladas. A disputa promete ser acirrada entre os dois grupos, que vislumbram também a exportação.
No Brasil, o mercado de aços longos está em alta. De acordo com projeções do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), as vendas do produto vão crescer 19% neste ano, para 7,1 milhões de toneladas e mais 7% em 2005, alcançando 7,6 milhões. O consumo interno total deve passar de 7,35 milhões para 7,9 milhões de toneladas. De 2003 a 2005, as exportações também devem crescer cerca de 10% – de 3,8 milhões para 4,2 milhões de toneladas.
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