Alemanha usa aprendizagem para combater desemprego entre jovens
Alemanha usa aprendizagem para combater desemprego entre jovensA alta taxa de desemprego entre os jovens é um dos problemas que mais preocupam o Brasil e outras nações em desenvolvimento. Na verdade, a falta de qualificação e oportunidades para essa parte da população também afeta os países desenvolvidos ao redor do mundo.
Em tempos de crise, as empresas tendem a reter seus funcionários mais experientes e focam na redução de recrutamento. Essa pausa na criação de novas vagas atinge mais duramente os jovens.
Além disso, com o desemprego vem a seleção mais criteriosa de funcionários para contratação. Isso cria o chamado “paradoxo do primeiro emprego”: as empresas favorecem quem tem experiência prévia, mas não dão a primeira chance para os jovens iniciarem sua carreira.
Para os menos escolarizados ou aqueles que ficam fora do mercado por muito tempo, é cada vez mais difícil conseguir que a porta se abra. Isso gera desemprego entre jovens e levanta preocupações sobre suas chances futuras no trabalho.
A experiência de gerações anteriores mostra, em relação ao desemprego dos jovens, que quanto maior o período passado fora do trabalho na juventude, mais tempo gasto fora do trabalho mais tarde na vida. Quando o trabalho é finalmente conquistado, os salários são mais baixos.
O desemprego entre jovens não só prejudica a vida dessa população imediatamente, mas também o custo dos governos e da sociedade, em termos de previdência, perda de receita fiscal e também no futuro, a longo prazo, com produtividade e rendimentos reduzidos e mais desemprego.
Um exemplo positivo de combate ao desemprego entre os jovens é a Alemanha.
Todos os anos, a empresa-mãe da Mercedez-Benz, Daimler, contrata cerca de 2 mil aprendizes – cerca de um terço do consumo anual da indústria de automóveis alemã.
Um em cada cinco é mulher. Nove em cada 10 dos jovens estagiários vai conseguir um emprego fixo na companhia. Aos outros, podem ser oferecidos contratos de curto prazo.
Alemanha usa aprendizagem para combater desemprego entre jovensOs planos de formação variam de acordo com a indústria, mas são sempre entregues após consulta estreita entre futuros empregadores, educadores e governo, que paga parte dessa conta.
O que é notável é que, apesar de a Alemanha estar assistindo a crise da economia europeia à margem, o compromisso de investir na força de trabalho qualificada do futuro é contínuo.
Os aprendizes passam a maior parte do tempo na linha de produção com o pessoal “da formação meister” – aprendendo os macetes da linha de produção das classes C, E e S. Eles passam a conhecer cada elemento do carro, incluindo metais, soldagem e as técnicas mais inovadoras, como motores híbridos e de célula de combustível de propulsão.
Essas técnicas dão a eles a oportunidade de trabalhar não só na indústria automotiva, mas também em qualquer outra operação industrial. Não é só isso: na situação de aprendiz, o jovem também aprende habilidades sociais, trabalho em equipe e etiqueta corporativa.
Para Wilfried Porth, diretor-executivo da Daimler e responsável pelos recursos humanos e relações de trabalho em todo o grupo, destaca que o que faz o esquema funcionar na Alemanha é a relação estreita entre escola e empresa.
“Você precisa de um sistema escolar que apoie o aprendiz. Nós temos esta tradição na Alemanha, de ser leal à empresa. Temos também um foco da tecnologia aqui na Alemanha. Para isso você precisa de pessoas muito qualificadas. É um sistema apoiado por políticos e pela sociedade – e necessário para as empresas”, diz.
Empresas como a Daimler – e outras menores – desempenham um papel importante na concepção da formação, em parte através de suas câmaras de comércio, mas a Alemanha também tem uma série de universidades técnicas, cujo papel principal é preparar a força de trabalho do país para o futuro.
Tais programas de aprendizagem têm raízes nas guildas medievais do país. Mas elas desempenham um papel importante no sucesso contínuo da Alemanha de hoje – apesar dos problemas que atormentam a zona do euro.
Para prevenir o desemprego entre os jovens, e não causar problemas para a indústria e para os contribuintes no futuro, os aprendizes precisam ser estimulados a longo prazo pelas empresas, que devem estar comprometidas com o planejamento de futuros produtos e investir na força de trabalho que será necessária para produzi-los.