Novas perspectivas para a indústria de navipeças
A retomada das atividades de estaleiros nacionais vem ganhando novos impulsos desde que foi iniciada em 2000. No entanto, a participação de fornecedores brasileiros de equipamentos e máquinas ainda é reduzida, apesar da promessa, em parte cumprida, do governo Lula de incentivar a indústria naval do País. “O governo protegeu estaleiros brasileiros da concorrência internacional. A Abimaq discute a mesma proteção para as máquinas brasileiras [utilizadas no setor]”, afirma César Prata, presidente da Câmara Setorial de Equipamentos Navais e de Offshore (CSEN) da Abimaq. Para 2008, são esperadas novidades.
De acordo com Prata, “o crescimento do setor depende do quanto de conteúdo nacional terão as futuras encomendas de embarcações feitas aos estaleiros brasileiros pela Transpetro”, subsidiária da Petrobras responsável pelo transporte e armazenamento de petróleo e derivados, álcool e gás natural.
Encomendas feitas pela Petrobras em 2000 deram início à primeira etapa de retomada de construção de navios. A empresa adquiriu embarcações de apoio a plataformas de petróleo (PSV’s) montadas por estaleiros brasileiros, mas com uso intensivo de equipamentos estrangeiros.
Quatro anos depois, a Petrobras anunciou um grande plano de renovação da frota da Transpetro que prevê a aquisição de 42 petroleiros. Parte do pedido, de 19 navios, foi assinado este ano com estaleiros brasileiros. “Os reflexos dessa encomenda deverão chegar ao setor de navipeças somente a partir de 2009. São três anos para se construir um navio. Os equipamentos menores têm prazo de entrega menor, de um ano depois do início da construção. O reflexo é demorado”, diz..
A Transpetro deve encomendar mais quatro navios ainda em outubro, completando 23 embarcações neste ano, o que representa investimento de R$ 5 bilhões da estatal. Segundo Prata, desse montante 40% vão para mão-de-obra, 25% para chapas de aço e 35% para máquinas e equipamentos. “Esses navios possuem pouco conteúdo nacional, basicamente mão-de-obra. Os contratos não protegem a indústria brasileira de navipeças, pois não oferecem igualdade de condições em relação às estrangeiras”, afirma.
Para reverter essa situação, a indústria de navipeças tem discutido com a Transpetro formas de proteger a participação nacional, que devem ser incorporadas às licitações da próxima encomenda da empresa de 16 navios, prevista para 2008.
Além dos navios da Transpetro, a indústria naval brasileira está envolvida com outros pedidos – cinco navios encomendados recentemente pela Vale do Rio Doce e 2 por um armador sueco, além de dez petroleiros para a Venezuela. Apesar de os navios nacionais terem custo final mais alto do que os construídos em outros países (60% superior ao de um similar chinês), “os preços brasileiros se equiparam ao final do pagamento do navio devido aos juros atrativos oferecidos pelo Fundo da Marinha Mercante”, afirma. Os recursos são provenientes do BNDES.
A CSEN conta com cerca de 60 associados, “todos com pequena participação na construção dos PSVs, pois a maior parte dos equipamentos são importados”, reitera o presidente da CSEN. Segundo ele, “a indústria nacional se aparelhou durante a década de 1970 para fabricar quase tudo que um navio precisa. Mas a falta de encomendas nos anos 1990 fez com que parte das empresas fechasse”. As que permaneceram (fabricantes de compressores, bombas, válvulas, caldeiras, escotilhas, guinchos, guindastes, mobiliário, entre outros) tiveram de se adaptar para fornecer equipamentos também para outros setores (Henrique Ostronoff)
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