Empresa incubada em São Carlos produz bioplástico

Substituir o petróleo pela batata, cana-de-açúcar, milho ou mandioca na produção de sacos de supermercado, sacos de lixo, bandejas, cestos, vasos de flores, tubos para reflorestamento. Um sonho concretizado para os defensores dos produtos biodegradáveis. É o bioplástico, uma matéria-prima desenvolvida a partir do amido e dos resíduos desses produtos.

O responsável pela produção da matéria-prima é o engenheiro de materiais, João Carlos Godoy, sócio da empresa Biomater Eco-Materiais Ltda, de São Carlos, interior de São Paulo. A empresa atualmente está incubada no Cedin-Fiesp, na cidade de São Carlos, interior de São Paulo, e tem parceria com a Universidade de São Paulo, a Universidade Federal de São Carlos e outras instituições e empresas.

Antes da Biomater, Godoy desenvolveu uma empresa de engenharia de materiais. O negócio era tão bom que foi comprado por uma multinacional. De volta a universidade, pesquisou a produção de polímeros de fontes renováveis.

Com recursos próprios e financiamentos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), os primeiros produtos foram lançados em 2007. Este ano, durante a 4ª ExpoSustentat, Godoy está mostrando a possibilidade das sacolas plásticas biodegradáveis.

“O mercado orgânico foi o grande incentivador dos plásticos biodegradáveis na Europa porque o consumidor orgânico vê com desconfiança as embalagens convencionais”, diz. Segundo o empresário, existem no mundo 120 empresas produzindo bioplástico. No Brasil, existem apenas cinco.

Além do milho, da mandioca, da cana e da batata, existem muitas outras culturas promissoras para a fabricação do bioplástico, como o girassol e o tabaco. Por mês, a Biomater produz 20 toneladas de matéria-prima. “O Brasil produz 6 milhões de toneladas de plástico e o mundo 200 milhões de toneladas por ano. Por isso, o mercado do bioplástico deverá crescer muito nos próximos anos”.

O engenheiro agora está em busca de investidores e parceiros agrícolas para construir fábricas do bioplástico em diversas regiões do País, com ênfase nas culturas locais, como a mandioca no Nordeste, a batata em Goiás ou a cana na região Sudeste.

Godoy pretende também começar a exportar o produto. Para tanto, já fez uma parceria com uma empresa holandesa, a Rodenburg Biopolymers para estabelecer os canais de exportação. “O nosso bioplástico é muito mais barato que o fabricado na Europa”. A Rodenburg produz 50 mil toneladas de bioplástico por ano.

No Brasil, os primeiros produtos já estão sendo comercializados em floriculturas e pequenas lojas. Algumas empresas já estão adotando as “sacolinhas” biodegradáveis. De acordo com o empresário, o produto é mais caro que o convencional porque a matéria-prima é mais cara. “O que ameniza um pouco o preço é que, apesar de o processo de fabricação ser muito semelhante ao plástico, o bioplástico gasta 50% menos energia elétrica.

Godoy acredita que já há muita gente interessada em desenvolver o bioplástico em uma escala comercial maior e, quando isso acontecer, chamará a atenção do governo brasileiro. “No mundo, o bioplástico é uma matriz que tem incentivos governamentais porque economiza petróleo. No Brasil, algum dia isso também vai acontecer”.

Vantagens

A maioria dos plásticos produzidos no mundo são sintéticos, compostos derivados de petróleo e demoram de 200 a 400 anos ou mais para se degradarem. O problema maior dessa grande demanda é que estudos mostram que somente 15% dos plásticos de uso comum são reciclados, devido à dificuldade para separar a grande diversidade existente, custos de lavagem, contaminação de água/tratamento de efluentes, elevados custos de logística para transporte e manuseio desses materiais.

Já o bioplástico em contato com um ambiente biologicamente ativo, ou seja, que tenha presença de bactérias e fungos, associado à temperatura e umidade, é transformado novamente em gás carbônico e água, concluindo o ciclo de vida sem impactar o meio ambiente. Quando utilizado nas compostagens, o bioplástico leva apenas 18 semanas para se decompor, virando lixo orgânico para adubação.

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