O tripé do sucesso

A competição entre as cadeias de abastecimentos das indústrias automobilísticas traz ao mercado soluções cada vez mais arrojadas e desafiantes para seus fornecedores. Se do ponto de vista técnico isso é uma verdadeira transferência de ineficiências, do financeiro configura uma excelente oportunidade.

A questão é como se adequar às exigências – justas ou não – que esse mercado impõe. Quanto mais afastada do núcleo, quanto mais periférica é a empresa, dentro da rede de fornecimento, maior é o desafio, já que as exigências vêem em efeito cascata do topo até a base. É neste contexto que os sistemas de gestão empresarial, ou ERPs, entram, viabilizando a integração da empresa na cadeia à qual ela está associada.

E não se trata apenas da infra-estrutura técnica, mas da conscientização por parte do empresário de que as ações necessárias para atender esse mercado e ganhar dinheiro são simples, a despeito dos apelidos cada vez mais elaborados das técnicas utilizadas: milk-run, cross-docking, lean manufacturing, e por aí vai. A questão que preocupa é que muitas vezes este status-quo é colocado como algo que apenas os especialistas conseguem decifrá-lo. Isso mantém o empresário distante, apenas na função de decidir qual a melhor solução a ser implantada, deixando seu entendimento em segundo plano.

Esse distanciamento é um dos maiores entraves para o sucesso da implantação de um sistema de gestão ERP. O mesmo “método” utilizado pelas empresas que comercializam o sistema de gestão atende muitas vezes as necessidades do alto executivo, e não levam em conta as operações utilizadas pelo trabalhador que põe a mão na massa. Esse, ao questionar “Como foi que decidiram isso!!!”, vai ouvir: “Veio de cima ….”, quando, na verdade, essas decisões vieram de fora da organização.

Os antídotos contra isso são igualmente simples e de bom senso. Estão baseados em vários pontos, sendo que quatro são os mais importantes:

A solução deve ter uma aderência muito boa ao negócio da empresa. Se estivermos falando de uma indústria focada em autopeças, o fator crucial é como ele irá dar suporte à operação industrial, desde o recebimento da matéria-prima, passando pelo envio de materiais para beneficiamento externo, industrialização de materiais de terceiros, e demais necessidades do “Chão-de-fábrica” – que muitas vezes não participa da escolha do ERP.

• Os usuários, em todos os níveis, devem estar esclarecidos do por que um método de trabalho novo é necessário, como ele – usuário – irá gerar maior valor agregado para a organização, mudando sua sistemática de trabalho. Esse objetivo só é possível se a equipe de implantação for especializada na solução e na área em que atua, tornando essas negociações mais fáceis de serem assimiladas. Que tal os módulos industriais serem implantados por um engenheiro de produção?

• As empresas são movidas por pessoas, e podem ser analisadas como tal. É difícil para todos nós termos motivação quando não há desafios. O mesmo ocorre para as empresas: montar metas para a organização como um todo e para cada departamento (produtivo ou não) vai trazer o elemento de busca da perfeição que todos almejam. E somente um sistema de gestão integrado irá permitir que a escolha desses indicadores tenha bases reais e atuais, e que o seu monitoramento seja feito em tempo hábil para a tomada de decisões, por todos os interessados;

• Por último, distingui-se um aglomerado de pessoas de um grupo, pela presença ou não de objetivos comuns. Objetivos são metas que irão atender às necessidades de cada elemento do grupo, direta ou indiretamente. Tratar essa necessidade de maneira honesta e criativa poderá resultar num sistema de recompensa justo e eficaz, onde os dois lados da balança são contemplados. Sendo assim, os objetivos se fundem e tornam-se o combustível vital para superarmos as expectativas e os obstáculos do caminho que surgem, naturalmente, a todo o momento.

O empresário que necessita integrar as operações industriais, comerciais, financeiras, fiscais e contábeis deve tomar esses cuidados, que embora simples, demandam um esforço considerável, e que, no final das contas, nos remetem ao tripé da atividade industrial: a produtividade, a competitividade e a simplicidade.

*Claudio Montes é Engenheiro de Produção formado pela FEI. Há 22 anos atua na área industrial, tendo participado de vários processos de implantação de ERPs. Atualmente, é consultor de negócios da ABC71, que desenvolve o ERP Omega, software de gestão especializado para indústrias de autopeças.

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