‘Caldo’ de cana é bom para motores
A Mercedes-Benz, o maior fabricante de caminhões e ônibus do país, decidiu apoiar a ideia do uso do diesel feito da cana-de-açúcar. A empresa testou o combustível em seus motores e concluiu que os resultados superam os de várias outras alternativas de energia veicular.
Entre as conclusões da montadora, além dos ganhos para o ambiente, também surge uma boa notícia para os frotistas: adocicar o motor do transporte coletivo ou de carga não vai custar mais, não vai reduzir em nada o desempenho e pode ser usado em qualquer veículo já em circulação.
A partir de abril, serão iniciados os testes de rua. A montadora alemã também se prepara agora para encaminhar os resultados das suas análises para a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Pretende também defender o uso do novo combustível de acordo com a mistura testada na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) e por meio da qual se comprovou a sua eficiência: uma mistura de 10% do diesel de cana e 90% do diesel comercial das áreas metropolitanas (S 500).
Segundo o gerente de desenvolvimento de motores da Mercedes-Benz, Gilberto Leal, com essa fórmula, os motores testados apresentaram redução de 9% nas emissões de material particulado, sem aumentar em nada os níveis de NOx (Óxidos de Nitrogênio). Nas mesmas avaliações, diz o executivo, o desempenho manteve-se igual ao do motor que usa diesel convencional. Além disso, e o uso do novo combustível não exigiu nenhuma alteração na estrutura do equipamento.
As conclusões da montadora também trazem uma boa notícia para a Amyris, uma empresa de desenvolvimento de novos combustíveis com sede nos Estados Unidos. Com filial no interior de São Paulo, a Amyris está em processo de negociação de parcerias com usinas locais para alcançar o plano de produção em escala. A empresa americana desenvolveu modificações genéticas que permitem transformar o caldo de cana em um combustível puro.
Trata-se, portanto, de um produto diferente do biodiesel, obtido a partir da reação química de óleos vegetais com álcool. Até agora, a tecnologia estava disponível somente nos Estados Unidos, onde o combustível pode ser obtido não apenas da cana, como também de beterraba e milho.
“Os resultados com o produto da cana superaram os de todas as demais experiências com energias alternativas para motores a diesel”, afirma Leal. O executivo destaca, ainda, que uma das maiores vantagens da nova experiência é que o combustível foi adequado aos aos motores existentes. E não o inverso. Um ônibus que já roda nas cidades pode, por exemplo, usar a mistura. Somente São Paulo tem uma frota de cerca de 15 mil coletivos.
“E se um dia o uso do diesel de cana não for mais viável, o motor pode perfeitamente novamente receber o diesel derivado do petróleo”, afirma Leal . É mais ou menos como funciona, por exemplo, o sistema do automóvel flex, que aceita gasolina ou etanol.
As conclusões puderam ser obtidas em pouco tempo. Segundo Leal, os testes com a cana começaram no início de dezembro. Essas análises foram feitas no centro de desenvolvimento tecnológico da Mercedes, o maior do grupo Daimler fora da Alemanha. Com uma equipe de 500 engenheiros, o centro foi criado em 1991. Mas, segundo Leal, os estudos em torno de propostas de energias alternativas começaram na mesma fábrica nos anos 70. Em 2009, a Mercedes produziu no Brasil 34,3 mil caminhões, 18,9 mil ônibus e 65,9 mil motores.
Além de toda a pressão mundial pela redução de emissões em veículos, no Brasil a indústria automobilística se concentra, agora, na adequação dos motores para o cumprimento da Conama P7, nome da norma de controle de emissões que entrará em vigor no país em 2012.
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